Política

Mauro diz que pescadores ganharão mais dinheiro sendo guia

O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União), defendeu, nesta semana, o projeto que tramita na Assembleia Legislativa de Mato Grosso – ALMT, enviado por sua gestão, que proíbe o transporte, armazenamento e comercialização de pescado nos rios de Mato Grosso pelos próximos cinco anos.

A medida já foi aprovada em uma primeira votação, sob protestos da categoria diretamente afetada, ou seja, os pescadores, e deve ser retomada com muita polêmica na próxima semana no legislativo estadual. Em defesa de seu projeto, o governador disse que os trabalhadores podem ganhar muito mais sendo guias, ressaltando que o ecoturismo é mais rentável que a atividade.

“Nós temos relatos, de algumas regiões de Mato Grosso, em que esses profissionais trabalhando como guias, como piloteiros em pousadas turísticas, ganham salários e remunerações muito melhores”, defendeu, de maneira bastante superficial.

Mendes, aliás, estava inspirado no achismo e, novamente, sem apresentar qualquer dado concreto, abusou do senso comum ao defender a legislação enfatizando que diversas pessoas estão indo pescar e, diferentemente de antigamente, voltando para casa sem nada.

“Ninguém aqui tem dúvida de que os peixes estão acabando em Mato Grosso. Só tem dúvida quem nunca foi pescar há 10, 20, 30 anos e foi pescar nos últimos tempos. Não é pouco comum você ouvir relato de pessoas que foram pescar e não pegou nada”, ilustrou.

O governador, contudo, ignora na fala diversos outros fatores como a poluição dos rios, fruto do descaso do Poder Público pela falta de saneamento adequado em muitas cidades, bem como a inexistência de fiscalização efetiva de indústrias e pessoas físicas que despejam seus dejetos tóxicos ilegalmente em várias regiões, sendo diretamente responsáveis pela mortalidade das espécies.

Faltou ainda o governador considerar as operações crescentes de usinas hidrelétricas, que ele tanto defende arduamente, inclusive no Rio Cuiabá, e que estão diretamente relacionadas à morte de toneladas de peixes nos últimos 10 anos em todo o Brasil. Quem apontou o cenário foi um estudo recente da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e das Universidades Federais do Pará (UFPA) e de Tocantins (UFT), publicado na revista Neotropical Ichthyology.

Sensibilidade zero 

O projeto de Mauro prevê a criação de um auxílio aos pescadores profissionais artesanais, fora do período da Piracema, por um período de três anos. No primeiro ano, será pago um salário mínimo, que hoje é R$ 1.320,00, metade de um salário mínimo no segundo ano e 25% de um salário mínimo no terceiro ano.

Os valores foram taxados como “esmola” por grupos organizados de pescadores, que cobram audiência pública e discussão mais aprofundada sobre o tema na Assembleia Legislativa de Mato Gross- ALMT.

O governador comentou que há que se ter um processo de transição e migração da realidade atual, mas mostrou pouca sensibilidade com a queda de renda acentuada que muitas famílias, que ganham bem mais de um salário mínimo por mês com a atividade pesqueira, terá no estado.

“Vocês (jornalistas) não querem que a gente sustente essas pessoas (pescadores) pro resto da vida. Se for o mesmo valor até o quinto ano. E aí? Volta a pescar tudo de novo, acaba tudo de novo”, finalizou.