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Mato Grosso: Nova varíola demanda atenção para medidas preventivas

Usar máscaras, praticar distanciamento e higienizar as mãos. As indicações repetidas à exaustão desde 2020 voltam ao dia a dia com o cenário de expansão de outra doença: a monkeypox, ou varíola dos macacos.

Atualmente a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a nova varíola como Emergência em Saúde Pública de Interesse Internacional e o Ministério da Saúde do Brasil, através do Centro de Operações de Emergência (COE Monkeypox), colocou a doença em alerta máximo.

Pesquisadores brasileiros, entre eles a professora do Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Ana Paula Muraro, publicaram artigo propondo a adoção de medidas ágeis no combate a monkeypox.

“Monkeypox é uma zoonose viral (um vírus transmitido aos seres humanos a partir de animais) com sintomas semelhantes aos observados em pacientes com varíola (erradicada em 1980, graças a vacinação), porém clinicamente menos grave (menor letalidade – 3 a 6%). Hoje ao Monkeypox, é o ortopoxvírus mais importante para a saúde pública”, conta a professora a respeito da doença.

De acordo com o Ministério da Saúde a nova varíola é causada pelo Monkeypox vírus, do gênero Orthopoxvirus e família Poxviridae como doença zoonótica viral. “Monkeypox recebeu esse nome porque o vírus foi identificado pela primeira vez em macacos mantidos para investigação na Dinamarca, mas a doença é encontrada em vários animais e mais frequentemente em roedores. Sabemos hoje que os macacos não são os principais transmissores da doença e não têm nada a ver com o surto atual, que tem se mantido por conta de transmissão entre pessoas”, destaca a professora Ana Paula Muraro que publicou o artigo “Monkeypox: o que estamos esperando para agir?”.

A professora relata que o reservatório natural da varíola dos macacos ainda não foi identificado, embora os roedores sejam os mais prováveis. “A ingestão de carne e outros produtos de origem animal mal cozidas de animais infectados é um possível fator de risco, pela nossa cultura no Brasil, essa não é uma via de transmissão preocupante”, acrescenta. O Ministério da Saúde destaca que o intervalo entre o primeiro contato com o vírus até o início dos sinais e sintomas é de 3 a 16 dias tipicamente.

“O período de intervalo desde a infecção até o início dos sintomas da Monkeypox é geralmente de 6 a 13 dias, mas pode variar de 5 a 21 dias. Ao ser infectado, há dois períodos que a infecção é dividida, o período de invasão e a erupção cutânea. O período de invasão, entre 0 a 5 dias, caracterizado por febre, cefaleia intensa, inchaço dos gânglios linfáticos (linfadenopatia), dor nas costas, mialgia (dores musculares) e astenia intensa (falta de energia)”, explica a professora do ISC.

Quando as crostas desaparecem a pessoa doente deixa de transmitir o vírus. Estas lesões podem ser planas ou levemente elevadas preenchidas com líquido claro ou amarelado, podendo formar crostas, que secam e caem. “A erupção cutânea geralmente começa dentro de 1 a 3 dias após o aparecimento da febre. A erupção tende a ser mais concentrada na face (95% dos casos) e extremidades (como palmas das mãos e dos pés em 75% dos casos) do que no tronco. Também são afetadas as mucosas orais (em 70% dos casos), genitália (30%) e conjuntiva (20%)”, conta Ana Paula Muraro em referência a linfadenopatia que é o que distingue a varíola de outras doenças como sarampo e catapora.

Isolamento após diagnóstico é necessário

Segundo o Ministério da Saúde em caso de suspeita da nova varíola é preciso procurar uma unidade de saúde para avaliação e se possível adotar o isolamento evitando o contato próximo com outras pessoas, além de higienizar as mãos regularmente. O diagnóstico é realizado de forma laboratorial, por teste molecular ou sequencialmente genético realizado em pessoas com suspeita da doença a partir da secreção das lesões.

“A transmissão hoje no Brasil e em Mato Grosso não está restrito a nenhum grupo populacional. O avanço da transmissão está sendo rápido, mas devemos lembrar que as medidas de vigilância e informação da população são essenciais para o controle dessa transmissão”, relata a professora sobre o cenário que no começo de agosto em Mato Grosso era de 14 casos suspeitos e 2 confirmados, com crianças e adolescentes.

Ana Paula Muraro enfatiza ainda que o diagnóstico precoce e as medidas de prevenção de transmissão para os contatos próximos é efetivo para evitar casos novos, principalmente entre os grupos mais vulneráveis para os casos graves como crianças e gestantes.

A transmissão acontece por meio do contato direto pessoa a pessoa, seja pela pele ou secreções. Além disso, a exposição próxima e prolongada com gotículas e outras secreções respiratórias também abre a possibilidade de contaminação, mesmo que passe a requerer contato próximo prolongado entre o paciente infectado e outras pessoas. A infecção também pode ocorrer no contato com objetos recentemente contaminados que foram contaminados com o vírus pelo contato com uma pessoa doente. Entre os objetos passíveis de contaminação estão roupas, toalhas, roupas de cama, utensílios e pratos.

De acordo com o Ministério da Saúde, o tratamento da nova varíola no Brasil é baseado em medidas de suporte com o objetivo de aliviar sintomas, prevenir e tratar complicações e evitar sequelas.

“É importante procurar um serviço de saúde ao apresentar sintomas da doença e relatar todos os sintomas, a confirmação da infecção ocorre apenas por meio de teste molecular (q-PCR) e está sendo realizado a partir da coleta da secreção, fragmento de crosta de lesão e coleta de soro, bem orientada pela Secretaria do Estado de Saúde de Mato Grosso”, pontua a professora.

Ana Paula Muraro comenta que ainda são poucos os laboratórios no Brasil que estão realizando os testes laboratoriais, o que pode levar a uma certa demora no resultado dos testes. Neste cenário, adotar o protocolo de isolamento de contato para evitar a transmissão.  “É importante considerar que o diagnóstico diferencial clínico que deve ser considerado e inclui outras doenças que também provocam erupções na pele (sarampo, infecções bacterianas de pele ou reações alérgicas e sífilis por exemplo). O inchaço dos gânglios linfáticos pode ser uma característica clínica para distinguir monkeypox de outros agravos, finaliza Ana Paula Muraro.