Saúde

Especialistas explicam por que é fundamental evitar as aglomerações nos próximos dias

Foto: Ilustrativa

Os números da pandemia no Brasil falam por si: mais de 3.600 mortes em 24 horas; mais de 305 mil vidas perdidas. Em São Paulo, o ritmo dos cidadãos e das empresas vai mudar completamente durante dez dias para tentar frear esta escalada trágica.

Comércio fechado e ruas mais vazias do que o habitual na maior na cidade do país. São reflexos do feriado emergencial de dez dias seguidos, que começou nesta sexta (26) e só termina no domingo de Páscoa, 4 de abril.

Mas, desta vez, a palavra que lembra lazer, descanso, diversão, precisa ganhar um outro significado. E, para que ninguém tenha dúvidas, especialistas defendem até que ele receba um outro nome: recesso sanitário.

“São 10 dias de reclusão, de lockdown, para evitar que a doença se propague. Por isso que não deve ser encarado como um feriado, porque o feriado convida ao lazer, convida à confraternização, convida a visitar os amigos, os parentes, a fazer programas. Não é isso, é um lockdown. Ou seja, a gente tem que evitar o contato próximo com o outro, porque é um vírus que passa de pessoa para pessoa”, alertou a microbiologista Natália Pasternak.

Quando respiramos, falamos, jogamos no ar os aerossóis, partículas muito pequenas, às vezes até invisíveis a olho nu. O vírus da Covid é ainda menor do que essas partículas e consegue pegar carona nelas.

Estudos feitos por pesquisadores da Ásia e da Europa já demonstraram que os aerossóis podem permanecer no ar por várias horas.

“Essas partículas já houve documentação de casos de contaminação, por exemplo, em restaurantes por uma única pessoa infectada que, na verdade, transmitiu o vírus para várias outras pessoas que adentraram na sala horas depois que essa pessoa esteve lá”, contou Paulo Artaxo, coordenador do Laboratório de Física Atmosférica da USP.

Mesmo numa reunião familiar ou com poucos amigos, basta que uma pessoa sem sintomas esteja infectada para que as gotículas expelidas quando ela fala contaminem quem está em volta. Essa é a principal forma de transmissão.

Mas como o vírus também fica em superfícies, se alguém tocar numa garrafa, em um copo ou nos talheres usados pela pessoa infectada pode transportar o vírus para outros lugares e até se contaminar.

Quanto mais gente estiver reunida, mais essas situações de risco são potencializadas. Vale para qualquer lugar fechado com grande aglomeração de pessoas, como bares, restaurantes e no transporte público.

Atividades ao livre são mais seguras, mas não dá para relaxar completamente, porque se alguém do seu lado estiver contaminado, os aerossóis carregados de vírus ficam suspensos na atmosfera por alguns minutos.

Um estudo feito por uma universidade da Finlândia mostra como os aerossóis se espalham em diferentes situações. Primeiro, quando uma pessoa sem máscara fala num ambiente mal ventilado durante 1 minuto - 4 minutos depois surgem mais gotículas e elas se espalham.

Os aerossóis diminuem bastante quando a pessoa usa máscara e está num ambiente bem ventilado. Agora repare: ainda estão lá. Ou seja, os cuidados precisam continuar.

“É importante sempre ter distanciamento social, porque um grupo de 10 pessoas, por exemplo, muito próximas entre si, mesmo em um ambiente aberto, pode haver a transmissão do vírus de uma maneira muito intensa. Nada substitui o uso de máscaras o tempo inteiro e nada substitui o distanciamento social que tem que ser mantido até a hora que a gente vencer essa pandemia - e isto é possível”, comentou Paulo Artaxo.

Texto: Jornal Nacional