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50% das mortes de mulheres em 2021 foram feminicídios em MT

Em um universo de 85 mortes de mulheres registradas em Mato Grosso, em 2021, 50% foram classificadas como feminícidios, resultando na quinta maior proporção do país. Esses números colocam o Estado também em 13º lugar quanto a morte de mulheres, no geral, e em 10º quando o assassinato tem como motivação o sexo feminino.

A taxa brasileira é de 34%, ou seja, das 3.878 mulheres mortas, 1.341 foram vítimas de feminicídio, segundo os dados da edição de 2022 do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

A proporção mato-grossense, de acordo com o levantamento, apesar de se manter alta registrou uma diminuição. Isso porque, em 2020, de 104 homicídios contra mulheres, 62 foram feminicídios, ou seja, 59,6%.

O contexto da violência contra a mulher em Mato Grosso coloca o Estado em evidência também com relação a outros registros. Com relação às ocorrências de lesão corporal, foram contabilizadas 9.419 ocorrências, mantendo o Estado em 9º lugar no ranking de registros, mesmo ao identificar uma leve redução (de 4%) nos registros, com relação ao ano anterior.

O mesmo cenário é identificado quanto as ameaças. O Estado, em números absolutos, chegou a 18.251 casos e, por isso, ocupou a 10ª posição entre as unidades federativas do país.

Por outro lado, se a violência contra a mulher persiste fazendo vítimas diariamente e colocando o Estado em evidência por conta disso, a luta para tentar proteger essas vítimas segue arduamente. Uma dessas evidências é a busca pela medida protetiva. Com 12.430 medidas concedidas em 2021, Mato Grosso ficou em 11º lugar com relação às medidas protetivas de urgência.

Apesar disso, a titular da Delegacia da Mulher de Cuiabá, Jozirlethe Magalhães Criveletto, avalia que esse número de medidas protetivas concedidas poderia ser ainda maior, dessa forma, mais mulheres estariam sob a proteção do estado.

“Quando falamos isso, se a mulher que está protegida pelo Estado chega a ser vítima de feminicídio, temos que nos questionar ‘qual foi o erro da rede de enfrentamento à violência doméstica?’, porque há todo um respaldo de haver um monitoramento, de cuidar e proteger essa mulher”, explica a delegada.

Contudo, Crivelletto pontua que a grande maioria dessas vítimas ainda não têm buscado essa ajuda. Principalmente quando se analisa as mulheres vindas do interior, de regiões ribeirinhas ou quilombolas, que muitas vezes não têm acesso ao telefone e outros mecanismos de busca de ajuda para sair do ciclo de violência doméstica.

Um desafio, portanto, para conseguir mudar esse cenário de violência contra a mulher em Mato Grosso é trabalhar a conscientização e educação para evitar a propagação das ideias patriarcais, principalmente, quanto ao sentimento de posse que homem nutre pela mulher.

Crivelletto comenta, inclusive, que esse pensamento ainda hoje é repassado de pais para filhos. Isso resulta em uma pulverização de casos de violência doméstica, ou seja, os registros de ocorrências desse tipo abrangem vítimas e agressores de todas as idades, partindo dos adolescentes indo até os adultos, quando os vínculos de afeto são mais duradouros.

Esse desrespeito à mulher já é percebido também dentro do ambiente escolar, quando as meninas sofrem com ações de desrespeito e bullying por parte dos garotos.

“Muitos pais até ensinam a questão do respeito com relação às meninas, mas na essência não praticamos isso. Porém, as crianças repetem aquilo que fazemos. Então, nós, como pais, precisamos falar e também praticar, ser exemplos”, pontua Crivelletto. Saiba mais aqui.